23 de fevereiro de 2008

TODA A DOR QUE ALGUÉM PODE SUPORTAR - CONTO

“A primeira coisa que senti foi a vontade incontrolável de vomitar. Disso eu me lembro muito bem. Tudo havia começado como uma brincadeira e eu não sei como seria a minha vida se eu não tivesse a imaginado.”

“Havia comprado o computador mais por causa dos meus filhos, eles viviam comentando que todos os amigos já tinham um e que seria bom para os estudos, tanto fizeram que acabei cedendo. Minha esposa ficou maravilhada, ela já havia feito um cursinho de informática e acabou descobrindo que poderia usar o aparelho no seu trabalho. Ela era vendedora autônoma, mas trabalhava mais para não ficar parada, graças a Deus eu sempre ganhei o bastante para nosso sustento e seu trabalho lhe proporcionava usar suas horas vagas de forma produtiva. Bem, com todos em casa usando o computador só faltava eu aprender e foi o que fiz. Deveria ser uma surpresa, comprei mais de 10 manuais e treinava no serviço. Chequei até a ficar bom no negócio e mal esperava a hora de mostrar para a minha família a minha recém adquirida habilidade e foi ai que aconteceu.”

“Numa noite, após todos irem dormir. Fui ao computador e instalei um keylogger. A minha idéia era mostrar a todos que conseguiria roubar as senhas deles. Fui dormir imaginando o rosto maravilhado dos meus garotos e o orgulho que sentiriam de mim. Esperaria uns 2 dias, pegaria os arquivos e alteraria as senhas de todos. Era uma boa idéia.”

“ O problema foi quando peguei os arquivos. Não resisti a curiosidade e tentei lê-los antes de mandá-los para o pendrive. E o que li me fez vomitar. Com o pouco da vontade que ainda tinha, transferi os arquivos e sai correndo do apartamento. Mal cheguei ao elevador, abri a porta da escada de incêndio e botei todo o meu café para fora. Sem saber o motivo fui descendo 5 andares até a garagem, ainda desnorteado. Foi tremendo que abri a porta do carro e coloquei a chave na ignição. Não me lembro do percurso até o trabalho. As palavras “gostoso” e “pênis” não saia da minha cabeça. De repente estava no escritório. Lembro vagamente de ter falado para a minha secretária que não estava bem e que não fosse incomodado até eu avisar.”

“Veja bem, eu sempre me gabei de manter a calma sob pressão, mas eu estava sem raciocínio, coloquei o pendrive no micro e então comecei a ler.”

“Vou te falar, tudo o que se ouve sobre maridos traídos em tom de brincadeira na roda de amigos não se compara ao sentimento real. Enquanto lia as frases no monitor meu cérebro tentava assimilar a informação, mas até ele me falhava, a sensação de impotência e de fracasso era insuportável. Do jeito que chorei qualquer um choraria.”

“É duro você ler que a pessoa que você ama está louca de vontade de colocar o pau do amante na boca, até ele gozar, como havia feito tantas vezes antes.”

“Acho que o que mais me chocou foi o fato de eu ter lido, se alguém tivesse me contado, provavelmente, eu a teria confrontado e no final acabaria aceitando suas desculpas.”

“Claro que teria que matá-la, naquele dia mesmo. A jogaria da janela do apartamento e depois diria que havia sido um acidente. Todo mundo sabia o quanto nos amávamos, a hipótese de homicídio nem sequer seria levantada. E foi com essa resolução que eu fui para casa. Não sem antes beber umas duas doses de um 12 anos que deixo no escritório para emergências. Falei para minha secretária que iria para casa e que remarcasse todos os compromissos para o dia seguinte. Ela nem questionou, todos conheciam a seriedade com que trato meu trabalho.”

“A bebida me fez bem, relaxei e pude parar de tremer no caminho para casa. Cheguei pronto para matar aquela desgraçada que ousara me trair e trair o meu amor, nunca havia existido outra e estava arrependido por isso. Peguei o elevador e já imaginava o corpo estendido na área comum do prédio. Todo o silicone que existia nela sairia pela força do baque. Os meninos não estariam em casa e isso seria perfeito.”

“Entrei no apartamento e joguei a pasta sobre o sofá, chamei por ela e foi nessa hora que tudo mudou.”

“Ela saiu do quarto, e sorrindo veio em minha direção. Falou o quanto me amava e apesar da surpresa de me ver naquela hora em casa nos poderíamos aproveitar que os meninos não estavam e poderíamos brincar como não fazíamos há tempos.”

“Desculpe, acho que esta cachaça não está me deixando lembrar direito, mas vou te contar. Foi a melhor trepada que havíamos tido em anos. Ela, naquela tarde, fez coisas que eu nunca havia imaginado. E para a minha surpresa quando a imaginava sendo possuída por outro, meu Deus, eu estava mais excitado do que nunca. A lambuzei toda com meu esperma. Coisa que só havia visto nos filmes que eu escondia na gaveta do escritório. ”

“O que eu fiz depois? Eu ia jogar o pendrive fora e desinstalar o keylogger mas acabei mudando de idéia, a partir dali todas as nossas transas seriam regadas pelos relatos que ela sem dúvida digitaria naquele teclado. Não sei se foi pela situação, só sei que naquela tarde percebi que não poderia viver sem ela. E é por isso que até hoje ela não faz idéia de que eu sei do seu amante. A dor me fortaleceu. Naquele dia posso dizer que morri pela manhã e revivi a tarde.”

“E é por isso, meu amigo que você não pode deixá-la. Note bem, percebi que de uns tempos para cá ela está meio triste. E eu sei que é por sua causa. Ela parou de se comunicar com você e isso também me afeta. Se ela não melhorar de humor nos próximos dias eu virei atrás de você e o farei pagar. Outra coisa. Se eu souber que contou para ela o que eu sei, juro por Deus que farei você sofrer. E ao contrario de mim, você não vai suportar.”

“Que tipo de louco eu sou? Desculpe, limpe o sangue da boca que não estou ouvindo você direito. Eu sou um sobrevivente panaca. Sobrevivi à maior dor que um homem pode suportar.”

“Todos os machucados que fiz em você são por um bom motivo. Soquei seu estômago para te deixar, pelo menos por pouco tempo, a mesma sensação que senti naquele dia. Desculpe pelo olho roxo e pela costela, acho que exagerei. Mas veja bem, ela vai querer tomar conta de você e isso pode reaproximá-los.”

“ Também tomei a liberdade de escrever uma carta para ela, está num cd, basta você colocar no computador e enviar. E vamos logo com isso, sábado eu tenho um encontro com uma garota e preciso dos narrações dela para me acender.”

“Desculpe, não resisti a vontade de chutá-lo novamente. Hehehe.”

“Muito bem amigo, adeus.”

3 comentários:

Flavia Borges disse...

Ahhhhhhhhhh, esta versão do conto é a versão na íntegra, hein! haha Você cortou uns lances do texto postado no desafio! haha Ja disse e repito: muito bom o enredo! Você tem a manha! ^^

Besos e participe do próximo desafio!

ps: valeu por me linkar! \0/

Anônimo disse...

Muito bom cara.
Nossa eu nem quero imaginar as dores que não podemos suportar.
Abração

Rosangela Neri disse...

Apesar de ser bem humorada gostei muito do mau humor...bjs