UM LUGAR SEGURO PARA MORAR
- Então é ele?
- Ao que tudo indica, sim. – essa conversa estava sendo travada pela metade da polícia de Roseiral, ela era composta por 1 delegado ,1 agente e 2 soldados. A cidade não precisava de mais que isso e mesmo 4 já eram demais. A cela em que estavam conversando o delegado Maciel e o agente Carlos havia ficado vazia por quase 10 anos. A outra era ocupada pelos moradores da cidade que insistiam em beber demais nos finais de semana e cujas esposas não os deixavam entrar em casa, causando gritaria na rua e ligações para polícia ir resolver o crime mais comum na cidade, perturbação da paz.
- Você quer dizer que esse cara chegou aqui hoje no final da tarde e assumiu a culpa pelo assassinato do ano passado? – o delegado se referia ao único assassinato ocorrido
- Doutor, ele sabia do sumiço dos olhos... – isso era prova incontestável de culpa. Esse detalhe havia sedo mantido em segredo para não assustar a população ou afetar o turismo da região. De modo que só quem sabia disso era a policia e contar esse fato a alguém era caso para exoneração do cargo. -... só pode ter sido ele.
- Carlos, esse é o primo da vítima. Que motivo ele teria para fazer aquilo? Meu Deus, esse cara ajuda a minha mulher a carregar as compras da feira do mês. Ele me parece totalmente inofensivo. – enquanto falava pensou no corpo e lembrou das vezes que André, a pessoa que estava na cela, havia almoçado na sua casa. De repente ficou arrepiado.
- O negócio é esperar ele acordar. Quando chegou estava completamente bêbado e está dormindo faz umas 3 horas.- deu uma pausa para acender o cigarro e depois continuou - Lá pelas 11 nós o acordamos e fazemos as perguntas devidas. O senhor sabe que temos que transferi-lo o mais rápido possível para a capital, se vazar que estamos com o assassino ele poderá falar demais. Se é que me entende.
- Eu sei. Você está certo Carlos. Vou ligar para a capital agora e providenciar tudo. – falando isso se virou e caminhou para seu escritório, seguido por Carlos que deu uma última olhada para André tentando entender o motivo daquilo.
- André, fingindo dormir, escutara toda a conversa. Teve vontade de chorar ao lembrar do primo. Tinham a mesma idade e sempre foram como irmãos. Marcos era um bom homem e só queria ter uma oportunidade para mudar de cidade e começar vida nova. Aquela noite, há um ano atrás, estava bem vívida na sua cabeça. Poderia ter sido ontem, a bebida o estava deixando meio doido. A noite tinha que tomar uns 2 copos de cachaça. Só assim as vozes sumiam e ele poderia dormir
- Vai ser fácil André. Aquela velha tem que ter muito dinheiro guardado. Basta entrar e descobrir onde ele está. Não vamos nem roubar tudo, só o bastante para fugirmos desse buraco... – foi essa empolgação que o convenceu, Marcos deveria estar planejando já há bastante tempo.
- Como você sabe que ela tem dinheiro? A velha nunca sai de casa, se ela tivesse dinheiro moraria numa casa melhor e não naquela porcaria caindo aos pedaços.
- Por isso mesmo tonto. Se ela nunca vai ao banco, não recebe visita e nem cartas como ela pode pagar pelas compras que levamos para ela toda semana? – na verdade André nunca havia parado para pensar nisso. O nome da velha era Leonor, ela estava na cidade desde antes dos dois nascerem. Nunca saía da velha casa e sempre pagava suas contas com dinheiro. Toda semana um dos dois providenciava a compra da sua lista. A gorjeta era muito boa e Marcos estava certo. De onde vinha o dinheiro? Na hora pareceu fácil demais.
- O negócio é o seguinte. – seus olhos brilharam quando falou do plano – Por volta das 2 da madrugada subimos no telhado, tiramos algumas telhas e entramos. A velha deve ter um sono bem pesado. Vasculhamos a casa encontramos a grana e saímos pela porta.
- E se ela acordar Marcos?
- Tu é muito bunda mesmo. Ela é uma velha. A casa fica meio isolada e se ela acordar, amarramos.
- E como ela vai sair? Ela pode morrer de fome se não for solta...
- Porra André, deixa de ser burro. Pegamos a grana e assim que chegarmos em outra cidade ligamos pra alguém soltá-la. A polícia não vai atrás de gente por causa de uma merreca. – a insistência acabou convencendo e o plano foi posto em prática.
Naquela madrugada nem tudo aconteceu como Marcos pensara. André se acovardou e Marcos acabou entrando sozinho.
- Marcos, eu não sou ladrão. Nem você é. – essas súplicas não foram ouvidas.
- Panaca, essa é a nossa única chance. Essa velha ta quase morrendo e se alguém tem que ficar com o dinheiro que seja eu. – falou com convicção e depois continuou – Pode ficar se quiser. Só te peço que avise se vier alguém. Covarde!
Marcos pulou o muro subiu no telhado e entrou conforme o plano principal.
Essa foi a última vez que viu seu primo.
Apesar da lembrança daquela noite estar bem viva o que aconteceu depois se desvaneceu um pouco. Durante alguns minutos ficou esperando e então passou pelo portão e caminhou até a porta. André lembra claramente do que ouviu. “Quem está aí?”, a voz da velha era inconfundível. “Apareça miserável. Eu sei que tem alguém aí.” - ficou esperando a velha gritar pelo susto. Esperou
Esperou pelo seu primo e dois dias depois o encontraram morto na praia. A polícia não deixou ninguém ver o corpo. E foi nessa noite que começou a ouvir a voz. Soube então o que acontecera com seu primo, e aconteceria com ele brevemente. Nunca mais chegara perto da casa e muito menos da velha, ficara sabendo que ela agora dependia de alguns garotos para fazerem as suas compras. Também não conseguia sair da cidade, havia algo que o segurava, só de pensar em se mudar entrava em pânico e mudava rapidamente de idéia. Poderia ficar bebendo para dormir enquanto vivesse se não fosse um pequeno problema.
Ultimamente a voz estava mais insistente e cada vez mais alta. Como se algo estivesse chegando mais e mais perto. André só teve essa idéia há 2 dias. Se entregaria para a polícia e uma vez na prisão a coisa que prometera pegá-lo não o alcançaria. Essa foi a primeira vez em um ano que se sentia seguro. A cadeia seria um lugar seguro para morar. Segundo soube pegaria uns 30 anos pela morte de seu primo. Afundou a cabeça no travesseiro e então cochilou, sendo despertado alguns segundos depois pela voz que ele conhecia tão bem.
- Andréééé, chegou a hora. Sabia que você tem olhos lindos? – dessa vez a voz veio seguida de um hálito quente perto do seu rosto.
- Você ouviu isto? – Maciel estava lendo um livro e foi interrompido pelo grito que vinha das celas.
- Claro que sim, doutor. - respondeu Carlos enquanto de levantava e pegava a sua arma. - Que grito horrível.
- Vamos lá ver. - Maciel pegava a sua arma também. - Deve ter sido um pesadelo. Podemos aproveitar e interrogá-lo agora... – essa frase foi cortada por um outro grito, ainda maior e mais horrível que o primeiro. Maciel correu então para as celas. Algo em seu íntimo lhe dizia que novas noites de pesadelos estavam a caminho.
FIM
6 comentários:
hehe...
o processo criativo do conto das aranhas é que é quase de verdade isso. as aranhas mordem MINHA cabeça e ninguém acredita. é sério.
:)
pois eu tenho medo, sim sim. tenho avisado as pessoas e ninguém me ouve...:)
Olá amigo.
Já li este há muitos dias...estou à espera de outro!!!
abraço
olharbiju
OLá John. Quem ficou de "MAU HUMOR"agora fui eu!!! Não tem desculpa, você nunca ter ouvido falat no GRANDE CLUBE de FUTEBOL-F.C.P--Futebol Clube do Porto.Eu moro perto do estádio. Tem fotos do mesmos no meu blog.
Tem que dizer que conhece...senão vou ficar de MAU HUMOR...
Brincadeira, amigo. Mas veja o estádio num post no meu blog. É lindo a foto é q não ajuda muito.
Grande abraço
olharbiju
Oi, achei teu blog pelo google tá bem interessante gostei desse post. Quando der dá uma passada pelo meu blog, é sobre camisetas personalizadas, mostra passo a passo como criar uma camiseta personalizada bem maneira. Até mais.
Gostei do conto!
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