1 de abril de 2007

O ELO MAIS FRACO - CONTO


O ELO MAIS FRACO

Ao chegar do hospital a primeira coisa que Fábio fez foi ligar seu computador. Ele sempre era usado para trabalhar, mas desta vez ele escreveria uma carta, uma carta que ele protelara muito em escrever. Enquanto a máquina era iniciada ele foi à cozinha e preparou um café, ele sempre detestara o próprio café. Nunca aprendera a fazer um, não como Suzana, sua esposa que havia ido embora há uns bons 10 anos. E era pra Suzana que a carta de hoje seria escrita.

Após tomar o café, horrível como sempre, ele se dirigiu ao computador, sentou na cadeira, abriu o word e então começou.

“Oi Zana, esperei muito tempo e finalmente estou com coragem de te escrever. Lucas, nosso filho, teve uma overdose de cocaína e está no hospital. Não precisa ficar alarmada, um amigo dele, o Bruno (você não chegou a conhecer, claro) teve presença de espírito e me ligou ontem de madrugada para avisar que Lucas estava passando mal numa festa de colégio. Eram umas 3 da manhã e demorei um pouco a chegar lá, mesmo sendo a festa no nosso bairro. Quando cheguei lá percebi que ele estava muito mal. O joguei no carro e levei para o hospital. O médico percebeu na hora o que era. Não tive vergonha, no fundo sempre soube que ele puxava fumo, mas nunca imaginei que ele tomava outras drogas. O médico tratou dele e ele está sob observação. Quase morreu, mas graças a Deus eu o levei a tempo. Amor, depois que você foi embora a minha vida com o Luquinha foi barra. Nunca consegui explicar para ele o motivo que fez sua mãe ir embora. Você faz idéia do que é criar um garoto de 7 anos sem uma mãe? Acho que não. Minha mãe fez o que pode, mas não era a mãe dele. E depois que ela morreu as coisas ficaram piores. Fiquei realmente só. Tive que me dividir entre o trabalho e o garoto e acho que foi ai que falhei. Ele sempre teve uma personalidade forte, nesse ponto ele puxou você. Tive que trocar de babá todo ano,ninguém o agüentava muito tempo. Mas eu sempre o amei, o amei tanto que fechei meus olhos para suas faltas. Tinha tanto medo de perde-lo que acabei o perdendo de verdade. Na ânsia de ganhar o seu amor acabei não percebendo que não estava ganhando nada. Você lembra de que quando casamos você dizia que éramos como uma corrente, e que quando nosso filho nascesse ele seria um outro elo? Eu primeiro pensei que o elo mais fraco fosse você, afinal quando você partiu de repente a corrente se partiu. Depois achei que fosse o Lucas, afinal ele não conseguia se adaptar sem sua presença, hoje vejo que o elo mais fraco sou eu. Te perdôo por ter nos abandonado quando mais precisávamos de você. Te perdôo pelos natais sozinho quando, após a ceia, Lucas ia para o quarto e eu para o escritório, juntos mais incrivelmente solitários, nos dois. Pelas reuniões de pais que você perdeu. Perdôo-te por tudo isso. Descobri que é hora de te esquecer pra sempre e lutar, sozinho pelo meu filho, nosso filho. Lembro também que você me dizia que nos amaríamos para sempre e que quando acabasse o sempre começaríamos a nos amar novamente. Quanto tempo dura o para sempre? Chega de pensar no passado, decidi olhar para frente e, ao lado de Lucas, começar a viver. Se eu não fizer isso perderei realmente a única coisa que, percebo só agora, me dá forças para suportar essa vida. Meu querido filho. O filho que criei sozinho, que ensinei a andar de bicicleta, que jogava videogame comigo. Onde foi parar esse menino? Hoje quando o vi naquela cama de hospital eu tentei lembrar dele e não consegui... Meu Deus, eu preciso resgatá-lo. Sem você.

Então, só agora reúno forças para te dizer adeus. Tentarei pensar menos em você. Claro que guardarei um lugar especial pra você nas minhas recordações e no meu coração. E farei com que Lucas faça o mesmo, não será uma luta fácil, mas sem você será melhor...

Adeus meu amor...

Fábio”

Após acabar de escrever ele leu a carta para se certificar que não havia nenhum erro. A imprimiu e colocou em um envelope. Onde escreveu, de forma caprichada, o nome da mulher. Em seguida se levantou e caminhou, levando consigo o envelope, até a estante. Abriu um livro e colocou a carta dentro. Junto ao livro ainda havia a foto de casamento dos dois.

- Por que você teve que morrer, Zana, Por quê? – Não conseguiu segurar o choro, lagrimas começaram a escorrer pelo seu rosto. – Te amei pra sempre, mas o pra sempre acabou.

Abraçou a foto, orando para que essa fosse a última vez. Largou a foto e pegou a de Lucas, de quando ele ainda era um menino. – Filho, papai voltou! - Falou em voz alta, limpando as lágrimas que teimosamente insistiam em cair. Amanhã seria outro dia, o primeiro de uma nova vida. Iria para o hospital para ver o garoto que há anos deixara de reconhecer. Sentiu paz, finalmente. O para sempre havia definitivamente acabado e ele decidira deixar sua esposa finalmente descansar.

F I M

4 comentários:

Eduardo Costa disse...

www.noivas-arte.blogspot.com deseja 1 Pascoa feliz

unknow disse...

???!!!???
Muito obrigado???!!!???
Pra vc também...

olharbiju disse...

Olá John,como vai?
Como sempre gostei deste ultimo conto.
Parabéns
abraço.
olharbiju

Lu disse...

Triste mas bonito. Nos faz pensar em como é difícil às vezes deixar nossos amores seguirem seus rumos.
Abraço.